DE COMERCIANTE SUÍÇO A
ABOLICIONISTA EM MOSSORÓ
A história de Mossoró está repleta de exemplos de
pessoas que não sendo mossoroenses de nascença tornaram-se por opção e muito
fizeram pela cidade que escolheram para viver e por ela trabalhar. Podemos
citar nomes como o do vigário Antônio Joaquim, primeiro e último vigário colado
de Mossoró, que tendo nascido em Aracati, no Ceará, pastoreou Mossoró por 51
anos, sendo também político influente do Partido Conservador. Foi de sua
iniciativa, num dos mandatos que exerceu como Deputado Provincial, a elevação de
Mossoró à vila e depois cidade. Podemos citar também o farmacêutico Jerônimo
Rosado, paraibano de Pombal, que teve uma participação muito grande na vida de
Mossoró, e muitos outros mossoroenses adotivos que de alguma maneira tiveram
influência no desenvolvimento da cidade. Alguns desses filhos adotivos vieram
de muito longe, como foi o caso do comerciante Conrado Mayer, que por aqui
aportou em 1860.
Nascido em Aistley, Cantão de São Galo, na Suíça,
em 1844, sendo filho de Conrado Mayer e Ana Mayer. Veio para Mossoró na
companhia de seu conterrâneo John Ulrich Graf, vindo a ter uma apreciável
fortuna. Estabeleceu-se com a Casa Mayer, que ficava na Praça da Independência
(hoje da Redenção), com especialidade na venda de artigos da moda, artigos
esses que eram importados das praças de Liverpool e Londres. Em contrapartida
exportava para essas mesmas praças algodão, peles silvestres e produtos da
região. Uma curiosidade a cerca de Conrado Mayer é que em sua casa residencial,
aqui em Mossoró, existia um mirante de cuja plataforma, montada a 30 metros de
altura, podia-se observar com a ajuda de um binóculo a entrada e saída de
navios do porto de Santo Antônio, navios esses que muitas vezes traziam tecidos
e bebidas estrangeiras para os seus armazéns.
Era maçom e como tal foi um dos decididos
colaboradores da construção do prédio da Loja Maçônica “24 de Junho”, chegando
a empunhar o malhete de 1º vigilante por vários períodos administrativos.
“Era um homem de idéias elevadas, logo se integrou
de corpo e alma nos movimentos sociais da terra, abraçando com denodo a causa
dos abolicionistas de Mossoró”, nas palavras de Raimundo Nonato. Empolgou-se
pela campanha da Abolição, tendo seu nome incluído entre os sócios da
“Libertadora Mossoroense” . Rico, generoso e abolicionista convicto, não
media dificuldades quando se tratava de ajudar financeiramente a campanha. Sua
bolsa estava sempre aberta, praticando atos de verdadeira prodigalidade em prol
da libertação dos cativos. É muito comentada uma frase que ele disse ao capitão
Lacerda, quando esse terrível capitão-do-mato tentou recuperar os negros
Estevam e Merência, fugidos do Piancó e aqui guardados pelos seus irmãos
libertos: “Capitão Lacerda, se dinheiro valesse esses infelizes escravos não
voltariam à escravidão”.
Um outro fato curioso na história de Conrado Mayer
é que o mesmo escolheu o dia 29 de setembro de 1883, véspera do dia designado
para a liberação total dos escravos, para consorciar-se com Maria Gomes da
Silva, com quem teve uma filha de nome Helena Amanda Maria.
“A sorte, no entanto, lhe foi adversa”, no dizer de
Lauro da Escóssia. “Sua casa comercial faliu motivada por crises climáticas”.
Faleceu em Areia Branca, por volta de 1895, em condições de extrema pobreza.
Ele que foi um grande rico, que a tantos ajudou, morreu na miséria, aos 51 anos
de idade.
Há um ditado que diz: “A grandeza dos homens se
mede pelas ações louváveis que praticam”. Em assim sendo, podemos afirmar, sem
medo de errar, que o comerciante suíço Conrado Mayer, o prócer abolicionista
mossoroense, foi um grande homem. Que seu nome seja sempre lembrado na galeria
dos grandes homens da história de Mossoró.
FONTE – O MOSSOROENSE
(17/10/1872), COLUNA DE GEALDO MAIA
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OBSERVAÇÃO - MAYER ERA CASADO COM A MOSSOROENSE MARIA GOMES DA SILVA, CUJO MATRIMÔNIO FOI CELEBRADO PELO AMERICANO DE LACEY WARDLAM, FUNDADOR DA IGREJA PRESBITERIANA DE MOSSORÓ, EM 1885